O quadro depressivo apresentado pelas crianças é mais um desafio para os pais que, algumas vezes, preferem ter a certeza de que o filho sofre desse transtorno, para só depois procurar tratamento médico.
Com 22 anos de casada, a vendedora Elizete Ribeiro soube, há poucos meses, que o marido está com um tumor na garganta. Desde então, a vendedora começou a observar mudanças no comportamento da filha Amanda, de 12 anos. “Ela começo a ter medo de algumas coisas, desânimo e desinteresse com a escola”, conta.
Elizete ainda não levou a filha ao médico e prefere se manter atenta, até ter certeza de que seja necessário iniciar um tratamento. “Vou ficar de olho, se aparecer mais mudanças no comportamento da Amanda, vou levá-la ao psicólogo”, diz.
Há casos em que os pais iniciam o tratamento, mas não dão seqüência, e a depressão volta pior. Após a separação de Ricardo Junqueira, a filha, na época com quatro anos, iniciou um tratamento psicológico. Na época da separação, os pais se preocuparam com o comportamento da criança e decidiram buscar ajuda médica para evitar um quadro mais grave de depressão. “Quando separamos, achei necessário iniciar o tratamento. A Sophia ia ao psicólogo uma vez por semana”, conta.
Passado algum tempo, Sophia, hoje com nove anos, parou de freqüentar as sessões de terapia. Atualmente a menina apresenta sintomas mais sérios de depressão. “Ela não quer estudar, anda muito agressiva, tem auto-estima baixa e vive desanimada em fazer coisas que antes ela gostava muito de fazer”, conta Ricardo.
O tratamento foi interrompido quando o pai percebeu pequenas melhoras na convivência com a filha. “Acredito que ainda não era a hora de parar o tratamento. Agora vejo que ela está mais depressiva do que na época do primeiro diagnóstico”, conclui o pai.
Para a psicóloga Paula Medeiros, os dois casos demonstram atitudes que devem ser evitadas. Paula afirma que a mãe não deve esperar o quadro se agravar para procurar assistência médica. “Só quem pode diagnosticar se a criança está com depressão, é um profissional especializado”, diz. O médico também é o único que pode definir se é ou não o momento certo para o fim da intervenção médica, portanto, os pais não devem interromper o tratamento quando detectam a ausência de alguns sintomas. “Se os pais não iniciarem o tratamento o quanto antes, a recuperação da criança pode ser prejudicada. Encerrar o tratamento antes da hora é perigoso, porque o transtorno pode voltar de maneira mais complicada”, conclui a psicóloga.